O que faz uma série ser digna de Emmy? CEO da Academia de TV responde; leia entrevista

O que faz uma série ser digna de Emmy? CEO da Academia de TV responde; leia entrevista

Quem vê uma cerimônia do Emmy Awards talvez não imagine a força-tarefa que há por trás para realizar a celebração. São meses de preparo que envolvem a seleção dos apresentadores, um roteiro extenso e rigoroso, estruturado para incluir homenagens, piadas e momentos musicais além da tradicional entrega de troféus, e muitos ensaios para garantir que tudo sairá conforme o planejado.



Emmy 2025 acontece neste domingo, 14 de setembro

Emmy 2025 acontece neste domingo, 14 de setembro

Foto: Television Academy/Divulgação / Estadão

Por trás do prêmio, que chega à sua 77ª edição consagrado como o maior da televisão mundial, está a Academia de Artes e Ciências Televisivas, organização formada por 23 mil profissionais da indústria e dedicada ao avanço do formato de TV nos Estados Unidos. Em tempo de constantes mudanças no modo como consumimos e nos relacionamos com as séries, é papel da Academia – e, por consequência, do Emmy – garantir que as rápidas renovações estejam refletidas na cerimônia ano a ano.

Tudo isso fará parte da premiação que acontece neste domingo, 14 de setembro, transmitida no Brasil pela HBO Max e pela TNT. Ao menos é o que garantem Maury McIntyre e Cris Abrego, CEO e presidente do conselho administrativo da Academia. Em entrevista ao Estadão, a dupla fala sobre os preparativos para a grande noite, os desafios para manter a relevância na era do streaming e a importância de capturar a audiência internacional.

Ano novo, indicados novos



Da esquerda para a direita: Sarah Bock, Adam Scott, John Turturro, Zach Cherry e Britt Lower na segunda temporada de 'Ruptura', série do Apple TV+

Da esquerda para a direita: Sarah Bock, Adam Scott, John Turturro, Zach Cherry e Britt Lower na segunda temporada de ‘Ruptura’, série do Apple TV+

Foto: Apple TV+/Divulgação / Estadão

Para uma premiação que já foi muito criticada por indicar e premiar as mesmas séries ano após ano, o cenário para a edição de 2025 surpreende bastante, ao menos em uma das categorias. Das oito séries indicadas a melhor drama, sete não estavam na lista no ano passado. Será que os votantes do Emmy estão mais abertos às novidades?

O sinal de mudança é empolgante para o público fiel — neste ano, as séries mais indicadas foram Ruptura (27), Pinguim (24) e O Estúdio (23). Mas é também um reflexo do tempo. Afinal, no calendário do streaming, é cada vez mais comum que o intervalo entre uma temporada e outra seja maior do que um ano, o que abre espaço para que mais atrações estejam no hall das nomeadas e premiadas.

“Há dez anos, tínhamos a reputação de reconhecer as mesmas séries muitas vezes. E eu acho que a situação mudou se você analisar a última década”, propõe McIntyre. “Parte disso se deve ao próprio calendário de produção. A maioria das indicadas a melhor drama não estava no ano passado, e isso aconteceu basicamente porque muitas delas fizeram um ano de intervalo.”



O CEO e presidente da Academia de Artes e Ciências Televisivas, Maury McIntyre

O CEO e presidente da Academia de Artes e Ciências Televisivas, Maury McIntyre

Foto: Television Academy/Divulgação / Estadão

Para o produtor, a variedade é sinal de uma leva criativa e proveitosa para a telinha. “O que faz uma série ser digna de Emmy está relacionado à história. Uma narrativa autêntica e boa vai vencer, vai ser reconhecida todas as vezes. Acho que é isso que o público deseja. Eu espero, olhando para a safra de séries no ar e que estão sendo reconhecidas, que uma história autêntica sempre vá impactar o público e os votantes do Emmy. Esse é o tipo de narrativa que chega ao topo”, explica.

Os segredos de uma noite ‘global’

Um dos grandes desafios ao se tirar do papel uma cerimônia tão vasta quanto a do Emmy (afinal, são três horas no ar) é tentar agradar ao máximo possível de pessoas. Nos Estados Unidos, a missão recai sobre o canal CBS, que faz a transmissão neste ano, e o apresentador escolhido: Nate Bargatze.

Pouco conhecido do público brasileiro, o comediante em ascensão tem esgotado suas apresentações de stand-up nos Estados Unidos, e ganha tração mundial com seus especiais já disponíveis na Netflix (o mais recente, Seu Amigo, Nate Bargatze, concorre ao Emmy em três categorias).

Maury admite que a escolha do apresentador é feita pensando a princípio no público norte-americano do canal oficial da transmissão, mas explica que há muitos momentos da cerimônia que são feitos pensando na audiência global, desde a escolha de apresentadores convidados a números musicais e esquetes de humor. Localmente, a HBO Max e a TNT destacam Carol Ribeiro, que apresenta o pré-show, e a apresentadora Aline Diniz, responsável pelos comentários.

“Estamos na CBS este ano, e o âncora que eles escolheram, o Nate, está em alta no momento e é muito sintonizado com o público do canal, que é um pouco mais conservador e só quer ouvir boas piadas e se divertir. Não sei qual é o apelo do Nate internacionalmente, mas estamos trabalhando em conjunto com a equipe de produção para garantir que tenhamos uma base ampla de apresentadores e outros tipos de interações que tenham mais apelo com o público internacional”, explica McIntyre.

Ao responder sobre como criar uma festa que inclua múltiplas culturas, Abrego brinca: “Duas simples palavras sobre a importância da audiência da América Latina: Pedro Pascal“.



O presidente do conselho administrativo da Academia de Artes e Ciências Televisivas, Cris Abrego

O presidente do conselho administrativo da Academia de Artes e Ciências Televisivas, Cris Abrego

Foto: Television Academy/Divulgação / Estadão

“Todos nós sabemos o quanto séries internacionais se tornaram hits com as plataformas de streaming, e as séries indicadas também são hits internacionais”, recorda, desta vez mais sério, ressaltando que criar um prêmio que tenha engajamento global passa por reconhecer atrações que conversem com uma audiência ampla.

“Quando olhamos para a categoria de séries limitadas, com Bebê Rena no ano passado e Adolescência neste ano, são séries feitas internacionalmente mas bem recebidas no campo doméstico [americano]”, continua o produtor, citando as atrações britânicas. “Elas são vistas ao redor de todo o mundo, e acredito que isso seja parte do motivo do crescimento da nossa audiência. Temos sorte de ter Nate como âncora, mas queremos ser representativos em todos os aspectos.”

A batalha por diversidade

O desafio de ser representativo em amplos aspectos abre ainda um segundo debate. Embora a lista de indicados ao Emmy 2025 tenha marcos significativos na busca por maior diversidade étnica e de gênero na indústria do entretenimento, há também alguns números preocupantes.

Segundo levantamento feito pela Variety, a edição deste ano tem o menor número de atores não-brancos indicados nas categorias principais em relação às últimas cinco edições.

Questionada sobre o significado da redução para o debate pró diversidade, a dupla hesita em apontar uma origem para o problema, mas ressalta os trabalhos feitos pela Academia para incentivar ambientes de trabalho com maior equidade.

“O Emmy não produz conteúdo, então só podemos premiar as séries que existem”, esquiva Abrego. “Por isso, o que nós fazemos é trabalhar focados na diversidade e na inclusão, para trazer mais vozes ao nosso corpo de membros votantes.”

“Além disso, nós continuamos defendendo e promovendo iniciativas que abraçam a diversidade na indústria”, complementa McIntyre. “Ao mesmo tempo em que tentamos fazer o corpo de votantes crescer de forma diversa, todos os anos promovemos rodas de debate com os estúdios e as emissoras para conversar sobre o cenário e o estado de inclusão. Nossa fundação, que é uma organização irmã da Academia [a Television Academy Foundation], tem um programa de estágio focado em garantir que a força de trabalho sendo desenvolvida seja diversa.”

Mesmo assim, os índices ainda são discretos. Dos 94 atores indicados nas categorias principais (ator/atriz, ator/atriz coadjuvante e ator/atriz convidado), apenas 24 são pessoas racializadas. No ano passado, o número era 30.

O momento do streaming



Estrelada por Colin Farrell, Pinguim está entre as séries mais indicadas ao Emmy 2025; ela concorre a melhor série limitada ou antologia

Estrelada por Colin Farrell, Pinguim está entre as séries mais indicadas ao Emmy 2025; ela concorre a melhor série limitada ou antologia

Foto: HBO/Divulgação / Estadão

Por trás de toda a pompa de uma festa como a do Emmy há em jogo um título disputado com unhas e dentes pelas plataformas que produzem e distribuem os conteúdos, sinônimo de prestígio e excelência. Afinal, qual delas sairá vitoriosa com o maior número de prêmios desta vez?

Nos últimos anos, Netflix e HBO/HBO Max andaram se alternando na liderança do ranking, demonstrando ao mercado que a dominação do streaming estava longe de ser uma realidade transitória. A exceção é a edição de 2024, quando o FX, da Disney, assumiu o primeiro lugar com 36 vitórias.

Diante disso, o que esperar de 2025? Com o Apple TV+ com duas das séries mais quentes na disputa, Ruptura e O Estúdio, os produtores acreditam que a linha de frente pode ficar ainda mais embaralhada. Entre as indicadas, a HBO Max e a HBO lideram com 142 indicações no total.

“Acho que é tudo uma questão de timing“, aposta Abrego. “No ano passado, a Disney e o FX dominaram porque eles tinham uma série grande, Xógum, no momento certo. É interessante observar o quanto esses números são importantes para as plataformas, e acredito que o segredo seja o agendamento dos lançamentos e onde eles estão.”

Para McIntyre, não há uma fórmula única de sucesso, e sim abordagens diferentes que geram resultados que impressionam. O CEO explica que é necessário observar que a quantidade de selos sob uma mesma marca ajuda a engordar alguns índices.

“Estamos falando da Netflix, que há 10 anos talvez tivesse 10 indicações, e agora está sempre na casa das centenas”, compara. “Eles claramente têm um modelo, começaram a produzir bastante coisa e continuaram a produzir conteúdo de qualidade. Já a HBO tem um histórico maior de produzir televisão de qualidade, mas agora eles ramificaram com a Max e continuaram com o mesmo nível. O que estamos descobrindo é que a filosofia geral das companhias agregadoras, e a abordagem delas do conteúdo, estão ajudando a orientar esse panorama”, aposta o CEO.



Seth Rogen é estrela da série 'O Estúdio', que disputa o prêmio de melhor comédia no Emmy 2025

Seth Rogen é estrela da série ‘O Estúdio’, que disputa o prêmio de melhor comédia no Emmy 2025

Foto: Apple TV+/Divulgação / Estadão

Ele explica com exemplos:

“Estamos olhando para a Disney e há muitos canais diferentes, não apenas ABC, Hulu ou FX. Ao mesmo tempo, temos a CBS com a Paramount, NBC com Bravo e Peacock e por aí vai. São agregadores muito grandes. Ao mesmo tempo, tem a Apple chegando com conteúdos fantásticos e muitas indicações neste ano, e a Netflix, que é uma entidade individual e conseguiu dar um passo enorme. E aí temos também a Amazon, que foi um grande player nos últimos dois anos e desta vez está mais de fora”, lista, sem chegar a uma conclusão do que virá adiante.

“A competição é deles, e não nossa, mas estamos aqui para celebrar”, resume.

Comédia ou drama? O dilema de ‘O Urso’



O Urso, com sua polêmica indicação nas categorias de comédia, deve levar grande parte das estatuetas no Emmy 2024

O Urso, com sua polêmica indicação nas categorias de comédia, deve levar grande parte das estatuetas no Emmy 2024

Foto: Chuck Hodes/FX/Divulgação / Estadão

Ainda que os vencedores mudem, um detalhe se mantém em alta há no mínimo três edições do Emmy: a discussão em torno dos gêneros em que as indicadas se encaixam.

Você provavelmente já se deparou com o debate, que aquece as redes sociais em época de premiação e gira em torno de O Urso. Intensa e dramaticamente carregada, a série sobre o chef de cozinha Carmy Bearzatto (Jeremy Allen White) concorre como comédia, mas muitos acreditam que ela seja um drama. Mas, para a Academia, a intenção do autor é o que vale.

“Nós avaliamos as categorias anualmente, e essa discussão volta à tona provavelmente a cada dois meses”, admite McIntyre. “Nós amamos que os criadores queiram nos desafiar neste sentido. É fantástico, eles querem romper barreiras, não querem ficar presos a um formato. Nossa preocupação é que, se começarmos a ceder, vamos terminar com 500 categorias.”

O CEO explica. “As pessoas falam em dramédia, mas então surgem outras: ‘Bem, por que vocês não criam uma categoria de ação e aventura e uma de suspense?’ Vamos continuar analisando mas, da nossa perspectiva, nós acreditamos que a intenção dos criadores deva ser honrada e respeitada. Se o criador diz que fez um drama, vamos respeitar o que ele sente. E vamos deixar que os votantes analisem. Se eles decidirem que sim, a serie é um dos melhores dramas, então é um drama”, determina.

Para ele, no caso de O Urso, a série se encaixa nos moldes da comédia, mesmo que seu tema desperte alguns questionamentos. “O criador disse categoricamente que esta é uma comédia. Uma comédia sabidamente sombria, mas uma comédia. E é uma comédia situacional clássica de ambiente de trabalho, se passa na cozinha de um restaurante. Nossos votantes já disseram ao longo dos anos, ao menos uma vez, que era a melhor comédia. Agora, eles disseram que ela merecia uma indicação. Ela é merecedora de um Emmy? Veremos.”

A cerimônia do Emmy 2025 acontece neste domingo, 14 de setembro. A transmissão será feita pela TNT e pela HBO Max, a partir das 20h30.

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